quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Travestir-se para vestir-se com definições

Tenho a sensação de que as pessoas gostam de escravizar conceitos e palavras e quando você não concorda pronto: "Reaça", "preconceituoso" e por aí vai. Pensando nisso levei quase um ano pesquisando e pensando em como eu escrever esse texto, bem cima do dia da visibilidade trans. Não, não sou um trans homem mas sim, sou UM travesti (eu sei, terceira guerra mundial está declarada). Antes de me jogarem em um caixão e me trancarem lá para sempre acompanhem a minha linha de raciocínio.
A palavra travesti é francesa e em sua origem define "uma pessoa que veste-se com roupas do sexo oposto". A grosso modo: mulher que se vestem de homem e homem que se veste de mulher, sem entrar no mérito de identidade de gênero ou orientação sexual. Então um homem no carnaval fantasiado de fada é uma travesti ou uma mulher fantasiada de lampião é um travesti? Sim. Isso entendido vamos relacionar travestilidade com afetividade.
Nos anos 50 a revista manchete procurava um termo para definir homossexuais que curtiam o carnaval em guetos e daí surgiu o empréstimo da palavra travesti para definir de uma forma maldosa e pejorativa todos os homossexuais. Não sei a partir de que momento foi, mas os então GLS pegaram para si e acorrentaram a palavra, não permitindo que qualquer pessoa que não fosse um homem "travestido" de mulher fosse designado de travesti e decidiu que todas as mulheres que também se encaixam na definição de travesti eram trans homens.
Como jornalista sou escrava as palavras, não sua capataz nem sua dona, por isso aproprio-me sim da palavra travesti para definir a mim mesma. Radicalismo? Acho que não, já que não me identifico na categoria trans. Sim, eu sei que muitas travestis vão me xingar ou me chamar de desinformada, mas acho que essa é uma reação no mínimo incoerente com um discurso tão liberal que elas pregam. Não sejam radicais por conveniência, apenas aceitem que há a possibilidade de existirem os travestis.
Pronto, podem me crucificar.